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Galeria Virgílio | São Paulo | Brasil
2008 













O ciclo das enguias
caixa vibratória com contas de vidro e caixa com vídeo  
2008





  



ARTE CONTRA A MISTIFICAÇÃO
por José Bento Ferreira

No atual estado de coisas soa natural perguntar por que gostar de arte, tão indeterminada é a artisticidade de coisas e ações. O que pode ser comum a tudo o que chamamos de artístico e por que seria desejável?

O que é um bem ou uma coisa boa? O útil ou o belo? Aquilo que é bom para muitos em detrimento do que satisfaz a poucos ou o que convém aos poucos detentores de certa autoridade sobre o assunto ainda que a maior parte do público não se sinta tocado senão por meio de um esforço artificial? Qual seria esse assunto?

Os quadros de contas e aparelhos giratórios de Silvia Velludo são modos de se trabalhar com tonalidade e contorno. Portanto remetem a dois conceitos formulados por Heinrich Wölfflin, o linear e o pictórico. “O estilo linear vê em linhas, o pictórico, em massas”, explica o autor de Conceitos Fundamentais da História da Arte (1915). Os modos não-convencionais empregados pela artista para manejar categorias históricas apontam respostas para perguntas como as que foram feitas acima e justificam formulá-las.

A colagem de contas resulta de uma evolução de pinturas pontilhistas produzidas recentemente pela artista. Aquilo que agora se faz com colagem antes era pintado. A técnica empregada pelos pós-impressionistas franceses ao final do século dezenove consiste em compor tons através de pequenos pontos de cor que chegam à retina em forma de luz. O “impressionismo científico” evita a imprecisão da pincelada, que no entanto passou para a história como a pedra de toque da arte moderna.

Silvia Velludo utiliza contas, ou miçangas, que efetivamente consistem em pontos coloridos e brilhantes. Com isso é possível redimir a técnica pontilhista de seu purismo. Paul Klee havia feito algo semelhante no contexto expressionista com sua poética do ponto e da linha, como em Polifonia, de 1932. Mas esses novos procedimentos dizem respeito a um novo contexto.

Os aparelhos eletrônicos trabalham com linha e cor. Produzem uma transformação divertida de quadrados em círculos por meio de uma operação não muito diferente da construção de tons com a colagem de contas. O contorno dos quadrados é sublimado pelo movimento, pois a cor vibra no centro da figura, que é redondo, uma vez que as pontas se apagam. Cor e luz não permanecem cativas no interior das formas, pulsam livremente.

Os dois artifícios criados por Silvia Velludo atuam na retina, não nos objetos do mundo, mas na percepção do espectador, à flor da luz. Ainda que as contas sejam objetos do mundo, as impressões de tons e colorido produzidas por elas são puramente visuais, não ocorrem nos quadros, mas nos olhos. O mesmo vale para as figuras em movimento.

Linear e pictórico se alternam, como se os estilos que Wölfflin via como verdadeiras “visões de mundo” ressuscitassem da História para assumir novas formas no novo contexto em que não se excluem. São compossíveis pois são estilos desprovidos das visões de mundo. Essa postura diferenciada em face das obras de arte permite definir com clareza o caráter contemporâneo da exposição de Silvia Velludo.

Se um estilo era o reflexo do espírito de uma época, tudo se passa como se vivêssemos uma época sem espírito. Por outro lado, esta é a época em que todos os estilos são possíveis e a palavra “espírito” dissociou-se da experiência estética. Por isso uma artista contemporânea como Silvia Velludo pode jogar com o linear e o pictórico forjando novos procedimentos a partir da pintura pontilhista, da colagem e da arte cinética, estilos “modernos” também resgatados do limbo dos tempos.

Nesse caso, o que é propriamente artístico na exposição não está nas obras em si, mas no modo de fazer, nesses procedimentos ou artifícios inusitados que proporcionam uma retomada criadora dos conceitos da história da arte. Em As Vozes do Silêncio (1953), André Malraux menciona diferentes formas de arte e afirma que “em muitas delas a arte estava em segundo lugar para seus autores, enquanto nós subordinamos todas à arte”.

O momento atual então é um epílogo, agora os artistas já não têm a função de servir o poder político ou crenças religiosas. Ao mesmo tempo, é o momento em que todos os momentos anteriores podem ser presentificados, porém desprovidos de espírito, o que não é necessariamente ruim. A arte está em primeiro lugar no mundo da arte. A arte que se coloca a serviço de causas e coisas parece dogmática e inconsciente.

Uma razão para se gostar de arte, se for preciso haver alguma, é o caráter crítico da experiência estética, o fato de que as obras de arte não falam sobre o mundo senão para falar sobre si mesmas e nada nelas serve de pretexto para a impostura, a mistificação e a violência, que parecem não poder ser banidas do mundo real, nem mesmo do meio de arte.

 











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Galeria Marcelo Guarnieri | Ribeirão Preto | Brasil
2009















Série Divisas
contas de vidro sobre tela e MDF
2007 - 2012







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