O trabalho de Silvia Velludo se desenvolve, desde fins dos anos 1980, através de diversos suportes e formatos. A partir da pintura, do vídeo, escultura, instalação ou fotografia, a artista se apropria e produz uma grande quantidade de imagens como uma colecionadora incansável, explorando ao máximo, por meio de sua prática, o assunto ao qual se propõe investigar.
Os conjuntos de obras que se debruçam sobre a questão da imagem sob variados aspectos, organizados nas muitas séries que caracterizam sua produção, parecem ser, enquanto processo e resultado, reveladores da natureza daquilo que se investiga. Como um mural repleto de provas e pistas que detetives compõem durante a investigação de seus casos, as séries de Silvia Velludo nos apontam, em seu conjunto e nas partes que os integram, aos mistérios que a inquietam em seu fazer artístico.
A questão da imagem parece latente nessa inquietação, seja quando busca materializar em sua pintura a impressão de um efeito visual - como o reflexo da luz sobre a água em sua Série Água de 1993, ou como a dispersão da luz em pontos de cor na Série Penumbras e na Série Divisas e também em Quanta Lua dando um passo além ao investigar tais aspectos a partir de um mecanismo elétrico -, ou quando usa a palavra de maneira a problematizar a narrativa como instigadora de imagens - em Palavraria de 2001, reunindo uma infinidade de frases e palavras recortadas de revistas sobrepostas em uma vertiginosa instalação, em Projeto para ver o mar de 2002 onde frases de um poema e formas geométricas se intercalam ou se fundem numa projeção audiovisual ou até mesmo em Ida de 2012, um letreiro digital de 20cm de altura e 2 metros e meio de comprimento que nos apresenta, em um tempo bastante retardado de leitura, a rolagem de uma grande quantidade de escritos da artista sobre o mundo que a rodeia - e também quando faz do registro fotográfico uma estratégia para dar conta de tudo aquilo que viu e viveu e dos lugares por onde passou, construindo uma espécie de biblioteca visual - observado em Há mais de um poema em cada fotograma no qual recorta e amplia detalhes de fotografias que faz em seu cotidiano gerando assim mais outras tantas imagens de detalhes em zoom, compondo um acervo infinito delas e em Autorretrato com Iphone 5C onde traduz em pinturas, ora enormes ora diminutas, selfies que faz com o seu celular a partir do reflexo de espelhos e vidros em diversas situações e lugares do mundo.
A compulsão pela repetição e pelo acúmulo que se observa em toda a produção de Silvia Velludo pode ser entendida sob a chave de uma recusa pelo controle e uma escolha pela liberdade dos sentidos, sua aproximação com a poesia - que se faz presente em alguns trabalhos ou textos que escreve em paralelo à eles - e seu interesse por registros gestuais em alguns de seus objetos nos apontam para tal leitura. Sua Série Gozo, que alude a uma das mais arrebatadoras sensações, nos coloca diante de cubos de linha e arame que são tensionados pela força da gravidade através de fios, sugerindo um movimento de contração e explosão. É interessante observar que a preocupação com a imagem e representação retorna aqui no título de uma das peças dessa série: Auto-retrato no Espelho. Outros objetos da mesma série ganham cores e formatos mais orgânicos, nos remetendo à celulas ou glóbulos, ao universo do corpo, templo dos sentidos.
O que permanece em sua produção é uma busca incessante que se dá através da repetição, do acúmulo ou da experiência do sensível. Uma tentativa de esgarçar seus assuntos, e, talvez, uma impossibilidade de fazê-lo.
Os conjuntos de obras que se debruçam sobre a questão da imagem sob variados aspectos, organizados nas muitas séries que caracterizam sua produção, parecem ser, enquanto processo e resultado, reveladores da natureza daquilo que se investiga. Como um mural repleto de provas e pistas que detetives compõem durante a investigação de seus casos, as séries de Silvia Velludo nos apontam, em seu conjunto e nas partes que os integram, aos mistérios que a inquietam em seu fazer artístico.
A questão da imagem parece latente nessa inquietação, seja quando busca materializar em sua pintura a impressão de um efeito visual - como o reflexo da luz sobre a água em sua Série Água de 1993, ou como a dispersão da luz em pontos de cor na Série Penumbras e na Série Divisas e também em Quanta Lua dando um passo além ao investigar tais aspectos a partir de um mecanismo elétrico -, ou quando usa a palavra de maneira a problematizar a narrativa como instigadora de imagens - em Palavraria de 2001, reunindo uma infinidade de frases e palavras recortadas de revistas sobrepostas em uma vertiginosa instalação, em Projeto para ver o mar de 2002 onde frases de um poema e formas geométricas se intercalam ou se fundem numa projeção audiovisual ou até mesmo em Ida de 2012, um letreiro digital de 20cm de altura e 2 metros e meio de comprimento que nos apresenta, em um tempo bastante retardado de leitura, a rolagem de uma grande quantidade de escritos da artista sobre o mundo que a rodeia - e também quando faz do registro fotográfico uma estratégia para dar conta de tudo aquilo que viu e viveu e dos lugares por onde passou, construindo uma espécie de biblioteca visual - observado em Há mais de um poema em cada fotograma no qual recorta e amplia detalhes de fotografias que faz em seu cotidiano gerando assim mais outras tantas imagens de detalhes em zoom, compondo um acervo infinito delas e em Autorretrato com Iphone 5C onde traduz em pinturas, ora enormes ora diminutas, selfies que faz com o seu celular a partir do reflexo de espelhos e vidros em diversas situações e lugares do mundo.
A compulsão pela repetição e pelo acúmulo que se observa em toda a produção de Silvia Velludo pode ser entendida sob a chave de uma recusa pelo controle e uma escolha pela liberdade dos sentidos, sua aproximação com a poesia - que se faz presente em alguns trabalhos ou textos que escreve em paralelo à eles - e seu interesse por registros gestuais em alguns de seus objetos nos apontam para tal leitura. Sua Série Gozo, que alude a uma das mais arrebatadoras sensações, nos coloca diante de cubos de linha e arame que são tensionados pela força da gravidade através de fios, sugerindo um movimento de contração e explosão. É interessante observar que a preocupação com a imagem e representação retorna aqui no título de uma das peças dessa série: Auto-retrato no Espelho. Outros objetos da mesma série ganham cores e formatos mais orgânicos, nos remetendo à celulas ou glóbulos, ao universo do corpo, templo dos sentidos.
O que permanece em sua produção é uma busca incessante que se dá através da repetição, do acúmulo ou da experiência do sensível. Uma tentativa de esgarçar seus assuntos, e, talvez, uma impossibilidade de fazê-lo.
Silvia Velludo’s work has developed since the late 1980s by means of diverse media and shapes. Through painting, video, sculpture, art installation, or photography, the artist appropriates and produces a large amount of images as a tireless collector, exploring, as much as possible, the subject she resolves to investigate through her practice.
The sets of works, which examine the matter of image under varied aspects and are organized in the many series that mark her production, seem to reveal, as process and result, the nature of what is investigated. Like a wall full of proofs and evidences that detectives compose during the investigation of their cases, Silvia Velludo’s series, in their whole and in the parts that make them up, point us to the mysteries that unease her on her artistic practice.
The matter of image seems latent in this uneasiness, either when she seeks to materialize in her painting the impression of a visual effect – as the reflection of light on water in her Água Series, from 1993, or as the dispersion of light into color spots in Penumbras Series and in Divisas Series, and also in Quanta Lua, giving a step further in investigating such aspects through an electrical mechanism –, or when she uses the word in a way of questioning the narrative as a mean of instigating images – in Palavraria, from 2001, gathering a infinitude of sentences and words cut from magazines and overlaid in a vertiginous installation; in Projeto para ver o mar, from 2002, in which sentences of a poem and geometric shapes intertwine or merge in an audiovisual projection; or even in Ida, from 2012, a digital text sign, with the height of 20cm and the length of 2 meters and a half, which presents to us, in a very delayed reading time, the scrolling of a big amount of the artist’s writings about the world that surrounds her – and also when she turns the photographic register into a strategy to account for everything she saw and lived, and for the places to where she has been, building a kind of visual library – which can be seen in Há mais de um poema em cada fotograma, in which she cuts and enlarges details of photographies she makes during her daily routine, thus creating a plenty of zoom images, composing an endless collection of them in Autorretrato com Iphone 5C, in which she translates into paintings – sometimes huge, sometimes tiny – the selfies she takes with her cellphone from the reflection in mirrors and glasses in varied situations and places in the world.
The drive for repetition and for accumulation observed in the body of Silvia Velludo’s production can be understood under the key of a refusal for the control and a choice for the freedom of the senses. Her proximity with poetry – which is present in some of her pieces or in the texts she writes parallel to them – and her interest on gestural registers in some of her objects point us to such reading. Her Gozo Series, which allude to one of the most ravishing sensations, puts us in front of cubes made of thread and wire stressed by gravity force through strings, suggesting a movement of contraction and explosion. It is interesting to observe that the concern with the image and the representation returns here in the title of one of the pieces of this series: Autorretrato no Espelho. Other objects from the same series receive more organic colors and shapes, referring to cell or globule, to the universe of the body, the temple of senses.
What remains, in her production, is an endless pursuit that happens through repetition, accumulation or the sensible experience. An attempt of breaking apart her issues and, maybe, an impossibility of doing so.
The sets of works, which examine the matter of image under varied aspects and are organized in the many series that mark her production, seem to reveal, as process and result, the nature of what is investigated. Like a wall full of proofs and evidences that detectives compose during the investigation of their cases, Silvia Velludo’s series, in their whole and in the parts that make them up, point us to the mysteries that unease her on her artistic practice.
The matter of image seems latent in this uneasiness, either when she seeks to materialize in her painting the impression of a visual effect – as the reflection of light on water in her Água Series, from 1993, or as the dispersion of light into color spots in Penumbras Series and in Divisas Series, and also in Quanta Lua, giving a step further in investigating such aspects through an electrical mechanism –, or when she uses the word in a way of questioning the narrative as a mean of instigating images – in Palavraria, from 2001, gathering a infinitude of sentences and words cut from magazines and overlaid in a vertiginous installation; in Projeto para ver o mar, from 2002, in which sentences of a poem and geometric shapes intertwine or merge in an audiovisual projection; or even in Ida, from 2012, a digital text sign, with the height of 20cm and the length of 2 meters and a half, which presents to us, in a very delayed reading time, the scrolling of a big amount of the artist’s writings about the world that surrounds her – and also when she turns the photographic register into a strategy to account for everything she saw and lived, and for the places to where she has been, building a kind of visual library – which can be seen in Há mais de um poema em cada fotograma, in which she cuts and enlarges details of photographies she makes during her daily routine, thus creating a plenty of zoom images, composing an endless collection of them in Autorretrato com Iphone 5C, in which she translates into paintings – sometimes huge, sometimes tiny – the selfies she takes with her cellphone from the reflection in mirrors and glasses in varied situations and places in the world.
The drive for repetition and for accumulation observed in the body of Silvia Velludo’s production can be understood under the key of a refusal for the control and a choice for the freedom of the senses. Her proximity with poetry – which is present in some of her pieces or in the texts she writes parallel to them – and her interest on gestural registers in some of her objects point us to such reading. Her Gozo Series, which allude to one of the most ravishing sensations, puts us in front of cubes made of thread and wire stressed by gravity force through strings, suggesting a movement of contraction and explosion. It is interesting to observe that the concern with the image and the representation returns here in the title of one of the pieces of this series: Autorretrato no Espelho. Other objects from the same series receive more organic colors and shapes, referring to cell or globule, to the universe of the body, the temple of senses.
What remains, in her production, is an endless pursuit that happens through repetition, accumulation or the sensible experience. An attempt of breaking apart her issues and, maybe, an impossibility of doing so.